Aproveite! 45 anos depois de Abril, a rua é sua!
Quatro décadas e meia “depois do adeus” o país mudou consideravelmente.
São 22h55 de 25 de abril de 1974. Na rádio toca “E depois do Adeus” de Paulo de Carvalho. É um sinal. Literalmente um sinal. Do outro lado, Otelo Saraiva de Carvalho comanda em segredo um grupo de militares no quartel da Pontinha em Lisboa. Às 00h20, Zeca Afonso ecoa na Rádio Renascença. É o último dos sinais - nome de código: “Grândola Vila Morena”. No Norte a revolução também está em curso. O CICA 1 do Tenente Carlos de Azeredo apodera-se do Quartel-General da Região Militar do Porto. Na rádio tocou a liberdade! O resto da história quase toda a gente conhece…
O 25 de abril de 1974 marcou o início de uma nova era em Portugal. A data teve consequências profundas na sociedade portuguesa e trouxe com ela a democracia.
Tal como quase todos os bons sonhos sociais, o projeto do 25 de abril poderá ainda estar por cumprir na sua totalidade, como muitas pessoas dizem, mas 45 anos volvidos, será difícil argumentar que o nosso país não está consideravelmente melhor do que nos tempos obscuros da ditadura.
CRAVOS E "ESPINHOS"
O 25 de abril foi das revoluções sociais mais carismáticas da história da humanidade, tanto pelo seu cariz pacifista, pelos símbolos que se embrenhou, como por representar juntamente com a queda do Franquismo em Espanha, o fim do fascismo na Europa ocidental, réstio dos acontecimentos históricos relacionados com a II Guerra Mundial e da Grande Crise económica de 1929.
Com ela, os portugueses ganharam o direito de se expressarem, se associarem, movimentarem livremente, votarem e muitas outras coisas que outrora seriam impensáveis num estado fascista.
Desde 1933 sob o regime autoritário do Estado Novo, que sucedeu a ditadura militar de 1926, Portugal viveu 48 anos completamente desprovido de liberdade. O dia da libertação em Portugal permitiu ao país assentar a sua governação nos pilares de uma representatividade política indireta, através de uma renovada e mais forte Assembleia da República. Com ela veio o fim da guerra em África, a independência das antigas colónias, a liberalização do mercado, a livre movimentação de pessoas e bens, assim como a descentralização dos poderes.
Os portugueses viram finalmente estabelecidos direitos que muitos outros países desenvolvidos na europa já tinham como garantidos há anos, e 11 mais tarde, fazer parte da União Europeia.
A revolução é apelidada por “Revolução dos Cravos” porque os militares que planearam a rebelião contra Marcello Caetano, então sucessor de Oliveira Salazar, usaram aquelas flores nas suas armas em vez de balas, em sinal de pacifismo.
O facto instigaria a confiança das pessoas nas e levariam ao cântico de inúmeras músicas pró-liberdade da autoria de Zeca Afonso e outros famosos compositores portugueses revolucionários. A imagem preencheu os telejornais de canais de todo o mundo e ficou para sempre na imaginação coletiva do nosso povo, e em grande parte por causa de uma florista que ofereceu as famosas flores aos soldados...
SAUDADE DA DITADURA?
O Estado Novo que teve como sua maior figura Oliveira Salazar, é visto ainda por algumas pessoas com algum saudosismo, mas era um regime altamente autoritário, antiparlamentar, censurador e limitador das liberdades individuais, tendo reprimido a população com a polícia estatal, a PIDE.
O governo Salazarista criou colónias penais para dissidentes, fazendo propaganda sem direito a contraditório e tendo um cariz altamente religioso, não havendo uma devida divisão entre governo e igreja.
A ditadura em Portugal ainda teve a agravante, de ao contrário da maior parte dos países onde houve regimes de extrema-direita, ter surgido sem apoio pré-existente das massas, sendo despoletada após uma ditadura militar.
O PAÍS QUE SE SALVOU DA GUERRA
Na altura do Salazarismo, Portugal e Espanha conseguiram uma complicada neutralidade face às duas frentes da Segunda Guerra Mundial (Aliados e Eixo), no entanto sofreu pesadas consequências para se manter imune aos ataques das tropas comandadas por Adolf Hitler. A população via recursos como volfrâmio e até alimentos serem-lhes escasseados para auxiliar esforços de guerra terceiros.
O nosso país esteve na iminência de ser invadido pelas tropas nazis, naquilo que Hitler planeou como “operação Félix”. Esse plano passava por uma invasão à cidade inglesa em Espanha, de Gibraltar, para invadir o nosso território, em caso de existir um desembarque dos Aliados na nossa costa.
A estratégia foi, contudo, cancelada porque Espanha e Alemanha não haveriam de chegar a acordo para a militarização das forças armadas espanholas no esforço conjunto de penetrar Portugal, tendo o país germânico focado as suas atenções na Grécia e Jugoslávia para aquela que viria a ser a guerra com a União Soviética.
25 DE ABRIL E SANTO TIRSO
O movimento de abril está indelevelmente ligado à luta do operariado. Santo Tirso, como um dos maiores centros industriais e força motriz do têxtil, teve também um papel importante na consciencialização política operada pelos diversos movimentos sindicais. A prova disso está no facto de terem existido no nosso concelho diversos atos rebeldes, de onde se destacam, por exemplo, a manifestação dos agricultores do concelho quando reivindicaram pagamentos em atraso a 24 de maio de 1974.
Ainda no pós 25 de abril, São Martinho do Campo e Vila das Aves foram alvos de assaltos a dois bancos por parte de um grupo contra-revolucionário que estava insatisfeito com o sistema capitalista vigente após a revolução. Os autores pertenciam às FP-25 (Forças Populares 25 de abril). Este movimento teve como mais carismático representante Otelo Saraiva de Carvalho, um dos capitães responsáveis por planear o 25 de abril.
De realçar que Santo Tirso, tal como várias cidades do país tem uma rua chamada 25 de Abril, no caso a que está exatamente diante da Câmara Municipal. Santo Tirso, no entanto, tem ainda a particularidade de ser dos poucos concelhos com uma rua intitulada "Dr. Oliveira Salazar", a que está defronte da Fábrica de Santo Thyrso.
RESSURGIMENTO DO NACIONALISMO
O nacionalismo tem sido um fenómeno que parece estar a querer surgir nalguns cantos do globo, como foi o caso dos Estados Unidos, com a eleição do polémico Donald Trump, ou no Brasil com Jair Bolsonaro e até na Europa, onde Hungria e Polónia revelam estar inclinados para valores altamente ligados à extrema-direita.
Muitos historiadores dizem que a História tem propensão a repetir-se, mas a II Guerra Mundial e todos os males que daí advieram perpetuam na memória e na imaginação da maior parte das pessoas.
Não se deve tomar a liberdade por garantida, por isso é imperativo saber dar-lhe o devido valor e valorizar algo que por vezes nos parece certo, mas que poderá mudar, se por um acaso nos deixarmos distrair o suficiente.