É assim um buraco negro. Eis a primeira imagem
Foram sete conferências de imprensa simultâneas em sete pontos diferentes do mundo para anunciar a novidade científica. O astrofísico português Hugo Messias integrou a equipa que fez a extraordinária descoberta.
São os primeiros resultados do projeto internacional do Telescópio Event Horizon (EHT, na sigla em inglês), e a grande novidade é esta: pela primeira vez na história conseguiu-se obter a imagem de um buraco negro. A fotografia mostra uma espécie de donut luminoso, envolto em negrume, e com uma zona central igualmente negra. É esta zona central o buraco negro. O donut é a sua silhueta de luz.
Assim, de repente, pode parecer pouco entusiasmante, mas para os cientistas trata-se de um marco, que, uma vez mais, confirma a teoria da relatividade geral de Einstein, abrindo portas a novas possibilidades de estudo destes misteriosos objetos cósmicos.
É isso mesmo que sublinha, aliás, o astrofísico português Hugo Messias, que esteve envolvido na descoberta, enquanto investigador do observatório ALMA, um dos oito telescópios que fizeram as observações.
"Recentemente assistimos a mais um sucesso das previsões da relatividade geral de Einstein através da deteção de ondas gravitacionais emitidas pela colisão de buracos negros", diz Hugo Messias, também colaborador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), em Portugal. Mas este é um novo passo, sublinha o investigador. "Agora estes resultados do projeto EHT comprovam-no a uma escala 300 milhões de vezes maior, nas condições de gravidade extrema perto de buracos negros super-massivos."
Um monstro que deforma o espaço-tempo
A colaboração internacional, que envolveu mais de 200 cientistas de 40 nacionalidades, e contou com financiamento do programa europeu Horizonte 2020, revela assim a primeira imagem de uma dos objetos mais estranhos do universo: extremamente denso, ele concentra uma quantidade matéria quase inimaginável num espaço proporcionalmente muito pequeno, afetando o espaço e o tempo na sua vizinhança.
Na prática, o que isto significa é que um buraco negro gera um campo gravitacional capaz de reter a própria luz, e daí este resultado extraordinário, da primeira imagem, que muitos pensavam ser impossível de obter.
Os cientistas pensam atualmente que existem buracos negros super-massivos no centro da maioria das galáxias, incluindo a Via Láctea. Entidades muito misteriosas ainda, que a ficção científica usou em muitos dos seus enredos, eles deformam profundamente o espaço-tempo à sua volta, submetendo a condições extremas de velocidade e de temperatura tudo o que está nas suas redondezas.
Fonte:DN