Microbiologista defende controlo de fronteiras com a Índia
Até agora Portugal já identificou 6 casos da variante indiana da Sars-Cov-2, uma mutação que se estima estar presente em pelo menos 20 países.
Se o nosso país não tomar medidas severas de prevenção poderá incorrer num alto risco de novas infeções. A opinião é de João Paulo Gomes, microbiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge em declarações ao Diário de Notícias.
“Deviam ser tomadas medidas que acautelassem novas introduções de infeção. Claro que devemos apoiar estes países no que necessitarem, mas o fenómeno de imigração ou a proibição de viagens de lá para cá e o contrário devem ser acautelados. Nós definimos medidas preventivas para o Reino Unido, para a África do Sul e para o Brasil”, diz João Paulo Gomes.
“400 MIL CASOS DIÁRIOS”
A estirpe indiana ainda é uma espécie de mistério para a comunidade científica. Aquele país já registou praticamente 20 milhões de casos de contágio da pandemia (sensivelmente o dobro da população de Portugal) e atingiu o recorde mundial de 400 mil casos diários.
A estirpe do país da rota da seda já está presente em países como o Reino Unido, França e Alemanha, tendo a agravante de se estar a mutar juntamente com outras estirpes perigosas como a brasileira e a sul-africana.
"Enquanto existirem outros países onde a situação não está controlada, dificilmente conseguiremos evitar introduções de novas infeções se o controlo reforçado não for tomado como uma medida óbvia em todos os países”, considera o microbiologista português.
“Pensa-se que já esteja em mais de 20 países e daí as autoridades de saúde internacionais terem lançado o alerta de podermos estar perante uma variante com maior transmissibilidade do que o SARS -CoV-2 que circula normalmente, apelando para que seja feito o mesmo controlo. Em termos genéticos, o que a comunidade científica sabe agora é que é uma variante que se caracteriza essencialmente por duas mutações preocupantes”, afirma João Paulo Gomes.
“Passou quase ano e meio do início da pandemia e o vírus já tem mais de 20 mutações quando comparado com o inicial sequenciado na China e a comunidade científica não dá a mesma relevância a todas. Há algumas que, aparentemente, não têm qualquer interesse biológico, clínico, epidemiológico, etc. Portanto, no caso da variante da Índia há duas que podem resultar em alguma preocupação”, prossegue em entrevista ao DN.
“Geneticamente pouco se sabe e clinicamente nada se sabe. Mas é preciso ter em atenção que, de facto, estamos a falar de um país que tem 20% da população mundial, 1,3 mil milhões de pessoas, e por isso não podemos descartar a hipótese de a densidade populacional ser de longe o maior fator de propagação de qualquer variante que ali apareça. Muito mais do que as características inerentes à variante genética em si. Portanto, neste momento penso que devemos ser muito cautelosos em relação a quaisquer afirmações ou especulações que se possam fazer em relação a esta variante. Ainda não tem muito tempo”, afirma o microbiologista.