Opinião: O desporto das massas passou a ser o desporto da “massa"
Uma avalanche está a começar a rebolar, prestes para esmagar os clubes mais pequenos, e no centro dele está uma bola de futebol que, pelos vistos, é só para alguns.
20 clubes, 15 fundadores e a monopolização de um desporto onde o dinheiro é déspota. É este o mote para a Superliga europeia, prova do desporto rei que pretende cartelizar o futebol mundial.
Aparentemente os clubes mais ricos, detidos por donos excêntricos, não ganham que chegue. Falta fazer qualquer coisa a estes brinquedos, muitos, associações com história indissociável da classe operária. No pelotão da frente… vários emblemas que nada de relevante fizeram na sua história, mas não interessa isso. Interessa o dinheiro!
Superliga: Uma competição onde 15 clubes fundadores não podem sequer ser despromovidos. Mobilidade para quê, quando na raiz desta elite esteve a elite, ela mesma? Um torneio, desesperado por exclusão dos mais pobres e onde a meritocracia é coisa que não interessa... uma competição onde apenas comanda a ganância.
Depois, 5 pequenos clubes da plebe poderão ter a oportunidade de nadar na piscina com os tubarões, apenas para a vã ilusão de que esta competição possa ter um resquício que seja de rotatividade. Não vai ter! Se havia coisa mais distópica que poderia acontecer ao futebol é esta. É o dinheiro a comprar o futebol, como se ele não estivesse já vendido que chegue. É o capitalismo selvagem a consumi-lo, uma metáfora para tantos e tantos setores da sociedade.
É que, pelos vistos, os coitados do colossos do futebol não conseguem fazer face às suas despesas. Fala-se de sustentabilidade do desporto rei, como se os grandes clubes envolvidos da modalidade não tivessem livre-arbítrio para controlarem os seus gastos e as suas despesas.
E imaginem como será, dentro de anos, quando clubes de países periféricos, como Milan, Inter de Milão, Juventus, Atlético de Madrid, ou outros de outras ligas mais ricas até se tornarem numa espécie de Tondela da Europa (nada contra o Tondela, que tem todo o direito a competir).
Aí quererão fazer esses clubes parte da Superliga? Ou haverá uma Super Super Liga, uma mini Super Super Liga, até que, por fim só reste o Manchester City, o Real Madrid, ou Florentino Pérez, sozinho no meio-campo.
E aos que saltarão fora da Superliga? Estará lá uma mão-invisível para os salvar? Diz-nos a história que sim, mas só com o apoio dos mais fracos.
Independentemente de tudo, entretanto, do outro lado do mundo, passa-se, por exemplo, fome em Moçambique e isto... do futebol, na verdade, não interessa para nada..
Texto: Stephane Oliveira