Equipa de Trump quis colher os louros da vacina, Pfizer não deixou
Vice-presidente sugeriu que o sucesso se devia à parceria público-privada que o presidente criou para acelerar o desenvolvimento da vacina, mas a Pfizer não recebeu dinheiro da iniciativa.
A notícia de que a vacina da Pfizer e da BioNTech tem uma eficácia superior a 90% contra a covid-19 foi festejada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e pelo vice-presidente, Mike Pence, no Twitter. Este último chegou mesmo a dizer que este sucesso era resultado do apoio da Administração Trump à investigação nesta área.
O problema é que a Pfizer terá sido a única a não ter este apoio.
Trump, que ainda não reconheceu a vitória de Joe Biden nas eleições, reagiu no Twitter: "A bolsa está a subir, a vacina chega em breve. Dizem ter 90% de eficácia. Que grandes notícias", escreveu.
As bolsas, que têm vindo a subir desde as eleições presidenciais norte-americanas, subiram ainda mais com a notícia do sucesso da vacina da Pfizer e da BioNTech.
Já o vice-presidente, apressou-se a equiparar o sucesso da vacina ao apoio de Trump: "Grande notícia: graças à parceria público-privada forjada pelo presidente Trump, a Pfizer anunciou que a sua vacina de coronavírus é eficaz, prevenindo 90% das infeções entre os voluntários", escreveu no Twitter.
E não foi o único. Contudo, Kathrin Jansen, vice-presidente da Pfizer e responsável pela pesquisa e desenvolvimento de vacinas, disse ao The New York Times que a farmacêutica não recebeu dinheiro público do chamado programa "Warp Speed" desenvolvido pela Administração.
"Nunca fizemos parte da Warp Speed", disse. "Nunca recebemos dinheiro do governo norte-americano ou de qualquer outra pessoa", afirmou.
Em setembro, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, esteve na CBS e explicou que não quis aceitar dinheiro do governo porque quis manter-se afastado da burocracia que isso implicava, com exigências constantes sobre os seus cientistas que não queria que existissem. "E também queria manter a Pfizer fora da política", afirmou.
A Pfizer só concordou uma parceria na altura da distribuição da vacina. Ao abrigo da Warp Speed terá assegurado que as primeiras cem milhões de doses da vacina produzidas nos EUA ficariam no país, com a Administração a pagar 1,95 mil milhões de dólares.
Os seus parceiros da BioNTech receberam dinheiro do governo alemão.
Posição diferente mostrou o filho de Trump, Donald Trump Jr., que pôs em causa o calendário da divulgação desta novidade. "O timing disto é incrível. Não há nada nefasto sobre o timing disto, certo?", escreveu no Twitter, querendo alegar que se esperou até depois das eleições para divulgar o sucesso da vacina.
Biden: "esperança" mas batalha será longa
Biden, que já está a preparar a transição e já reuniu uma equipa para lutar contra o covid-9, também já reagiu. O presidente-eleito falou da "esperança" que as notícias trazem, mas avisou que a batalha ainda será longa.
"Felicito as mulheres e os homens brilhantes que ajudaram a produzir este avanço e dar-nos uma razão para ter esperança", indicou num comunicado, referindo ter sabido com antecedência, ainda no domingo à noite, do sucesso da vacina.
"Ao mesmo tempo, é também importante perceber que o fim da batalha contra o covid-19 ainda vai demorar meses", acrescentou, defendendo a importância do uso de máscaras.
O presidente eleito já apresentou o seu grupo de trabalho para combater a covid-19. Esta é co-presidida pelo ex-cirurgião-geral Vivek Murthy, o ex-comissário da Food Drug Administration David Kessler e a investigadora de Yale Marcella Nunez-Smith. Da equipa fazem ainda parte outros nove especialistas, incluindo a brasileira naturalizada norte-americana Luciana Borio, especialista em biodefesa.
Fonte: "Diário de Notícias"