Frangos engordados artificialmente? Na Dinamarca há quem recue
"Se fossem bebés tinham 300 quilos". Maior criadora dinamarquesa desiste de frangos de crescimento rápido
Pelo bem-estar animal, a empresa dinamarquesa Danpo vai deixar de criar frangos de aviário em que o processo de engorda é rápido para optar pelas aves de crescimento lento.
Em apenas 41 dias, um frango de crescimento rápido pode chegar aos 2,2 quilos, condição que o leva até ao matadouro e depois às prateleiras dos supermercados. O processo de engorda é rápido, mas aumenta o stress e as doenças do animal. "É como se um bebé pesasse 300 quilos em dois meses", ilustra a porta-voz da Equalia, ONG espanhola de defesa do bem-estar animal. Foi precisamente a pensar nesse bem-estar que Danpo, o maior criador de aves do norte da Europa, decidiu colocar um ponto final na criação de frangos de rápido crescimento.
A empresa dinamarquesa, que produz cerca de 50 milhões de frangos por ano, vai deixar de criar os animais que em poucas semanas atingem o peso necessário para o abate e decidiu optar por raças de crescimento lento: Ranger Gold ou Rambler Range.
Se os frangos Ross 308 atingem os 2,2 quilos em apenas 41 dias, os Ranger Gold conseguem o mesmo peso em 81 dias.
O crescimento lento evita o stress destas aves, as dificuldades que podem ter em movimentarem-se e bem como doenças cardiovasculares e respiratórias, patologias que estão associadas aos frangos de engorda rápida, os Ross e os Cobb. Estes animais que representam um ganho de peso diário rápido não são de raças puras, engordam no menor tempo possível, cerca de 100 gramas diárias, o que leva a que haja menos gastos e uma maior eficiência energética.
Apesar das vantagens para as empresas, que advêm do processo de engorda rápido, a Danpo optou pelo bem-estar destes animais e pretende, até ao final de 2021, substituir toda a sua produção, tornando-se, assim, no maior produtor de frangos de crescimento lento no norte da Europa.
Contactada pelo El País, María Villaluenga, porta-voz da ONG Equalia, aplaude a decisão da empresa dinamarquesa e deseja que sirva de exemplo para outros produtores, nomeadamente para a indústria avícola de Espanha, país que, escreve o jornal, produz anualmente quase 800 milhões de frangos, destes apenas 8% têm o crescimento ideal, indicam os dados da organização de defesa dos animais.
A decisão da Danpo surge em sequência das ações da ONG britânica Open Cages, que, desde 2018, luta por melhores condições nos centros de criação das principais cadeias de distribuição.
Para o diretor do departamento de produção animal da Faculdade de Veterinária da Universidade Complutense de Madrid, os consumidores têm de perceber o que significa optar por comprar frangos ou ovos mais baratos. "As mudanças nos valores nutricionais são mínimas e não há diferença na segurança alimentar, mas a vantagem de pagar um pouco mais é obtida pelos animais", destaca Ignacio Arija ao El País.
O consumidor pode fazer a diferença
Afinal, "o envelhecimento lento é um processo mais harmonioso", sublinha.
O consumidor pode fazer a diferença, uma vez que é ele que gera a procura e os produtores acabam por se adaptar ao que as pessoas preferem na hora de comprar. É que uma mudança no processo de criação destas aves tem impactos no preço dos produtos avícolas, refere o especialista. As empresas têm de fazer um maior investimento nos alimentos e na manutenção, uma vez que as aves passam mais tempo nos centros de criação.
Um inquérito europeu, feito em 2006, indicava que 71% das pessoas consideravam importante o bem-estar e a proteção destes animais de criação. Quase uma década depois, a percentagem aumentou para 94%.
"Os consumidores exigem cada vez mais carne com mais bem-estar animal porque sabem que o limite biológico da ave foi atingido", sublinha Deborah Temple, investigadora da Universidade Autónoma de Barcelona.
Fonte: "Diário de Notícias"