Esquerda rui nas Américas?
"Onda rosa", ou a "guinada à esquerda" que dominou o panorama político da América do Sul entre a década de 90 e o início dos anos 2000 parece ter chegado ao fim.
A América do Sul teve cerca de uma década ligada pelos ideias de esquerda. Lula da Silva, Hugo Chávez, Evo Morales, Néstor Kirchner e Tabaré Vázquez eram as figuras de relevo da cena política daquela região. Segundo um estudo da BBC cerca de 3/4 dos latino-americanos nessa altura viviam sob o comando de líderes da esquerda.
Inspirada pela luta de Che Guevara, Simon Bolívar e muitos defensores dos direitos dos trabalhadores, a América do Sul havia sido a zona do globo com maior colisão de países socialistas. Estas nações sonhavam até por um único país de língua espanhola regido por um mesmo sistema. No entanto, isso parece estar prestes a acabar.
O objetivo de libertar aquela região do jugo dos Estados Unidos da América e de tornar estas nações mais igualitárias, sucumbe a cada dia que passa.
A experiência até estava a correr bem em países como o Brasil, onde o governo conseguiu um superavit (lucros superiores às despesas), e na Venezuela, com uma subida exponencial do PIB (Produto Interno Bruto), mas a crise financeira deitou tudo isso a perder.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA
Com a recente queda da presidência de Evo Morales na Bolívia e a proclamação de Jeanine Áñez como líder interina do país, a esquerda cai progressivamente na América do Sul e na América Central.
O Brasil vê-se dominado por um regime de cariz de extrema direita, onde o polémico Jair Bolsonaro é a figura proeminente, mesmo com a recente libertação de Lula da Silva.
A crise na Venezuela, onde o ditador Nicolás Maduro disputa o poder com o auto-proclamado líder Juan Guaidó (apoiado pelos EUA), não augura uma longa permanência do atual regime.
No Chile, Sebastián Piñera, da Renovação Nacional, partido de direita, sucedeu Michelle Bachelet do Partido Socialista.
Na Argentina, Mauricio Macri, de direita, sucedeu Cristina Kirchner, defensora dos princípios do centro-esquerda, embora o Partido Justicialista, esteja prestes a voltar ao poder, com Alberto Fernández. O bipartidarismo na Argentina, indica que os argentinos estão confusos quanto à governação que preferem, ou almejam um estilo mais centrista.
O Perú virou à direita desde 2016 e tem agora como presidente Martín Vizcarra
O Paraguai historicamente de direita, reelegeu o Partido Colorado em 2018.
Os últimos bastiões socialistas aparentam ser Cuba, Uruguai (Tabaré Vázquez) e o Equador (Lenín Moreno. Raul Castro, progressivamente tem tornado a economia mais permeável ao capitalismo tradicional, pelo que se afigura o fim do regime comunista, tal qual existia nos tempos de Fidel Castro.
Estaremos prestes a testemunhar a uma espécie de "queda do muro de Berlim" na América, ou uma vez mais, tudo isto não passa do já costumeiro pingue-pongue político?