A crise catalã do ponto de vista de uma tirsense
Diana Martins é enfermeira e trabalha em Barcelona há 9 anos.
O ambiente, nunca antes testemunhado na segunda maior cidade espanhola, faz lembrar o que se vivenciou por exemplo na Ucrânia por altura do Maidan, entre 2013 e 2014 e da qual resultaria a mudança de governo e o processo controverso de independência da Crimeia e a posterior anexação Russa.
Como é viver em Barcelona nos últimos tempos? A Santo Tirso TV falou com uma tirsense no local para apurar o ambiente naquela cidade nestes tempos mais controversos.
Diana confessa sentir-se ameaçada por vezes nesta crise e não descarta a hipótese de poderem existir milícias organizadas. “Não vejo, mas suspeito que está tudo preparado para o caso de as manifestações na rua se agravarem”.
Sobre as conversas na rua, Diana revela a diversidade de opiniões sobre os motivos pelo qual deveria ser atingida a independência e um sentimento generalizado de que a maior parte das pessoas nativas da Catalunha a deseja para melhorar a sua qualidade de vida.
“Há uma emoção diferente: discordância e revolta são os principais sentimentos”, considera. “A origem é as pessoas acharem exagerada a sentença aos presos Políticos da Catalunha”, refere.
“As conversas em Barcelona sobre a independência são variadas e subjetivas. Por um lado, existe o sentimento do Catalão nativo, que sente a Catalunha como o seu país e que opina que a mesma poderia ser independente e melhorar ainda mais a qualidade de vida do cidadão. Por outro, existe o Espanhol que emigrou de outra parte de Espanha e que sente a Catalunha como sua também, mas inserida na cultura e estilo de vida espanhol e se identifica com Espanha”, tece à Santo Tirso TV.
“Depois há os emigrantes que vêm de outros países e que, na grande maioria, acha que a Catalunha deve permanecer em Espanha, até porque há uma grande quantidade de pessoas que não pertencem (pelos países de origem) à União Europeia. A questão da independência da Catalunha poderia ser um passo atrás na legalidade dessas pessoas”, refere Diana Martins que não tenciona voltar para Portugal no futuro imediato.
E já alguma vez se sentiu ameaçada? A enfermeira não esconde que já houve alturas em que teve receio. Senti perigo pelo meu veículo motorizado que fica na rua. Tive medo que ardesse. Portanto, desde o primeiro dia da sentença deixo-o noutro sítio que considero mais seguro. Durante o dia não tenho medo. À noite evito o centro porque tenho medo do que possa acontecer”, embora “no resto da cidade” ande “à vontade”.
MANIFESTAÇÕES CONTRAPRODUCENTES
Para Diana, estas manifestações estão a ser contraproducentes, por exemplo, para aquele que é um dos maiores dinamizadores da economia catalã: o turismo. “Já está a afetar os turistas. Desde o primeiro dia de manifestações que houve muitos turistas a cancelar reservas em hotéis. Na economia, obviamente tem um impacto negativo” conclui, ela que não se revê com o pensamento separatista.
ACALMIA?
Barcelona já vai no nono dia de manifestações. Os protestos têm vindo a acalmar. Ontem, por exemplo, um grupo de manifestantes insurgiu-se na cidade e atirou vários litros de detergente para a rua, com o objetivo simbólico de “lavar as injustiças”, mas a ameaça de conflitos mais violentos poderá a repetir-se este fim de semana.
No passado sábado apenas, houve 14 feridos e 66 detidos, resultantes dos confrontos com a polícia. A ameaça de uma crise política como aconteceu na cidade ucraniana de Kiev e mais tarde na Crimeia não é uma hipótese definitiva a descartar, mas o governo espanhol de Pedro Sánchez quererá evitar isso a todo o custo, até porque a Catalunha não é a única região do país vizinho que tem vontade de atingir a autodeterminação. O País Basco e a Galiza são apenas dois exemplos de regiões que se poderiam inspirar pela rebelião.
A polícia presente em força na Catalunha tem estado do lado federal. Resta saber se se manterá, acaso os feridos entre os oficiais se agravar.
A idade de militares da capital para Barcelona não é um cenário a descartar se, porventura, no fim de semana a manifestação voltar a ganhar contornos de grande dimensão, algo que poderia ter sido evitado se tivesse havido uma diferente abordagem perante os líderes políticos independentistas catalães.
É uma crise diplomática que poderá ultrapassar a escala espanhola e catapultar-se para o resto da Europa se o líder do Governo, Sánchez não lidar da melhor forma com o problema. Negociação séria definitivamente aqui parece ser a palavra chave.