Tudo o que sabemos sobre Sayfullo Saipovo, o suspeito de Manhattan
O homem de 29 anos que terá causado a morte de oito pessoas em Nova Iorque é descrito por amigos e antigos vizinhos como um camionista educado, que cozinhava para uma vizinha idosa e a tratava como se fosse “sua mãe”.
Sayfullo Habibullaevic Saipov, o homem de 29 anos que alegadamente matou oito pessoas e feriu 11 em Nova Iorque, Estados Unidos, na tarde de terça-feira, 31 de Outubro, é descrito por ex-vizinhos e amigos como um camionista educado, que cozinhava para uma vizinha idosa e a tratava como se fosse "sua mãe".
Todavia, especialistas dizem que Saipov, que chegou aos EUA vindo do Uzbequistão há sete anos, queria morrer no ataque e "ir para o céu como um mártir". O suspeito não conseguiu os seus alegados intentos. Depois de sair do carro com um par de armas falsas nas mãos, foi baleado no abdómen pela polícia e levado para o hospital. Deverá sobreviver. "Ideologicamente, ele acreditava que esta era a coisa certa a fazer, acreditava na causa e que, depois de ser morto, iria para o céu e se tornaria um mártir", explica Haras Rafiq, chefe do think tankcontra o extremismo, Quilliam.
A polícia encontrou bilhetes escritos à mão em árabe perto da carrinha utilizada por Saipov, com indícios da aliança do suspeito ao Estado Islâmico. O grupo ainda não assumiu responsabilidade pelo ataque, mas, de acordo com Rafiq, é só uma questão de tempo até que isso aconteça. "Este homem podia estar ideologicamente ligado ao Daesh e eles nem o saberem", continua Rafiq.
Isto é o que sabemos sobre Saipov até agora:
Programa de visto de diversidade
Saipov mudou-se para os EUA, vindo do Uzbequistão, em 2010 e conseguiu o Green Card. No Twitter, Donald Trump escreveu esta quarta-feira, 1 de Novembro, que o suspeito entrou nos EUA através da lotaria do Departamento de Estado para pessoas de países com poucos imigrantes nos EUA.
O programa exige que os participantes não tenham antecedentes criminais e tenham o equivalente a um diploma do ensino secundário.
De acordo com uma licença de casamento registada em Summit County, Ohio, Saipov casou-se com Nozima Odilova, de 19 anos, em 2013. Ambos apresentaram Tashkent, no Uzbequistão, como local de nascimento. Saipov morava num apartamento de dois quartos com a esposa e os filhos pequenos em Paterson, uma cidade de 145 mil habitantes, em Nova Jérsia, segundo avançam os media locais.
Em Paterson, Saipov trabalhava desde há alguns meses como motorista da Uber. A empresa confirmou que o suspeito passou na verificação de antecedentes e os registos não mostram reclamações por parte de passageiros. Numa declaração, a empresa diz-se "horrorizada com esta violência sem sentido". Saipov mudou-se para Nova Jérsia a meio do ano, tendo anteriormente vivido em Tampa, Flórida, onde trabalhava como camionista comercial.
Na terça-feira, 31 de Outubro, Saipov alugou uma carrinha pick up da Home Depot em Passaic, perto de Paterson, tendo deixado a sua minivan Toyota estacionada perto da loja.
Saipov, que tinha carta de condução de pesados, também chegou a viver no Ohio e registou duas empresas - Sayf Motors Inc. em 2011 e Bright Auto LLC em 2013 - listadas na base de dados do Departamento de Transportes como "transportadoras".
"Tratava-me como se fosse sua mãe"
Os vizinhos de Saipov na Flórida descrevem um homem simpático, sempre pronto a ajudar os outros. Uma delas descreve-o mesmo como um homem carinhoso, que lhe costumava levar comida caseira e que dizia que queria partilhar com ela a cozinha do seu país. "Trazia-me sempre comida. Oferecia-lhe dinheiro em troca, mas ele dizia que não queria", relata Kyong Eagan ao Daily Beast. "Não consigo acreditar. Ele era tão sincero. Estou chocada. Tratou-me sempre como se fosse sua mãe. Era um bom vizinho. Realmente um bom vizinho".
Outros lembram-se de Saipov a morar num apartamento modesto com uma mulher e "dois ou três filhos", além de uma idosa que acreditavam ser a sua sogra. Enquanto Saipov era simpático, os vizinhos dizem que as mulheres da família eram frias, a ponto de serem rudes. "Quando dizes olá, a maioria das pessoas retribuem com um olá, mas elas não", salienta Melissa Matthews. Por sua vez, Dilfuza Iskahakova, que vivia em Cincinnati, Ohio, conta ao Guardian que Saipov ficou em casa dela durante vários meses em 2011, pouco depois de chegar do Uzbequistão. "Parecia uma pessoa simpática, mas não falava muito", explica Iskhakova. E acrescenta: "Limitava-se a ir trabalhar e a voltar para casa. Trabalhava num armazém".
Kobiljon Matkarov, que conheceu Saipov há cinco anos, na Flórida, diz ao New York Post que o colega uzbeque era "um homem muito bom, muito amigável... é como um irmão mais novo... ele via-me como um irmão mais velho". Matkarov revela que viu o suspeito pela última vez em Junho, quando Saipov deu boleia à sua família para o Aeroporto JFK e garante que não sabia que Saipov tinha qualquer ligação ao terrorismo.
Laços com o Estado Islâmico
"Não há evidências que sugiram uma trama maior, ou um esquema mais alargado", disse o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, na terça-feira, numa conferência de imprensa realizada depois do ataque. E acrescentou: "No entanto, ele definitivamente tinha acesso - ou contacto - a pessoas que eram colegas de ideologia, que potencialmente queriam ser jihadistas, ou a alguém que lhe colocou a ideia na cabeça de que, ao fazer isto, estaria a apoiar a causa".
Haroon Ullah, especialista em terrorismo que trabalhou como consultor do Departamento de Estado em contra-terrorismo, concorda. "Tratando-se do Daesh e de outros grupos extremistas, as investigações mostram que raramente se trata de um 'ataque de lobo solitário'", explica Ullah à VICE. "Os perpetradores e recrutas são abordados e estimulados por dezenas, se não centenas, de colegas diariamente".
Rafiq considera "estranho" que o Estado Islâmico não tenha ainda assumido a responsabilidade, especialmente porque o grupo já publicou actualizações da noite e da manhã desde que o ataque aconteceu. Pode, no entanto, haver várias razões para isso, sublinha.
Primeiro, o Estado Islâmico pode ainda não ter consciência de que o ataque aconteceu. Ao contrário do que a opinião pública pensa, o grupo terrorista nem sempre tem conhecimento dos ataques levados a cabo em seu nome.
Segundo, depois do ataque recente a Raqqa, o grupo já não tem a infra-estrutura de media que tinha anteriormente para assumir a responsabilidade de ataques de forma tão rápida.
Terceiro, o auto-proclamado Estado Islâmico exige que os seus seguidores tenham "ijaza" – permissão de um superior – antes de libertarem uma declaração. Isso pode estar a atrasar as coisas.
"Já publicaram declarações sem comando directo anteriormente e as pessoas que o fizeram sofreram as consequências internamente", assegura Rafiq.
Todavia, Ullah diz que o auto-proclamado Estado Islâmico pode nunca vir a assumir a responsabilidade. "Se isto foi perpetrado ou dirigido pelo Daesh, o grupo pode nunca assumir a responsabilidade. Mas, o que os fãs do Daesh vão fazer é amplificar a notícia, dizendo que o terrorista era um dos seus por ser 'inspirado' pelo grupo, o que permite aos dirigentes 'cortá-los' se não gostarem das mensagens".
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