
Portugal será o país europeu com menor percentagem de população ativa
Projeções colocam Portugal, em 2050, com 1,6 pessoas em idade ativa por cada idoso, hoje estamos nos 2,9. Migrações serão determinantes.
O pico do inverno demográfico está previsto para 2050, ano em que Portugal será o país da Europa com a mais baixa percentagem de população em idade ativa - 53,6%, contra os atuais 64,5%. Teremos 1,6 pessoas potencialmente ativas (15-64 anos) por cada idoso. Proporção hoje nos 2,9 e que chegou a estar nos 8 por cada idoso nos anos 60. Se as projeções do Eurostat se confirmarem, dentro de 30 anos teremos o dobro de óbitos sobre nascimentos. Colocando o futuro demográfico do país nas migrações.
O gabinete de estatísticas europeu atualizou as suas projeções, analisando regiões e sub-regiões. Se o cenário de contínuo envelhecimento não surpreende, a sua dimensão territorial traz dados novos à discussão. Para um índice de dependência de idosos de 63 pessoas por cada 100 em idade ativa (hoje, nos 34,2), o Alentejo Central chegará aos 79,2. Do lado oposto, a Área Metropolitana de Lisboa (AML), nos 54, praticamente em linha com a média projetada para a União Europeia.
O que se explica tendo em conta que, nos próximos 30 anos, apenas a AML e o Algarve irão ganhar população. No sentido inverso, regiões como o Douro serão das mais envelhecidas da Europa. Mas se às projeções do Eurostat retirarmos o impacto das migrações, a subida estimada de 5% na população da AML torna-se praticamente inexpressiva.
Com a pirâmide etária a vincar-se: em 2050, um terço da população terá mais de 65 anos (+12 pontos percentuais face à realidade presente) e o peso das crianças até aos 14 anos não chegará aos 13%. Cenário que se atenua de 2050 em diante, mas que não inverte tendência. E porquê 2050? "Porque é quando as gerações que nasceram num contexto de fecundidade elevada entram em idades superiores (+65)", explica, ao JN, a demógrafa Maria João Valente Rosa.
Nas mãos dos migrantes
Numa lógica irreversível, o futuro - de Portugal e da Europa - passa pelas migrações, tanto externas como internas. "Só as migrações podem atenuar estes níveis de envelhecimento", defende. E a mudança espoletada pela pandemia deve ser analisada e alavancada. Tendo presente esta "transformação digital", o "grande desafio será tentar atrair população estrangeira qualificada", frisa, por sua vez, Teresa Rodrigues, professora na Universidade Nova de Lisboa e autora do ensaio "Envelhecimento e políticas de saúde".
"É uma tendência mundial. Não temos de necessariamente residir nas áreas urbanas para lá trabalhar. É um potencial que as regiões têm de aproveitar", diz a demógrafa. E que deve ser acompanhado, prossegue Teresa Rodrigues, de investimento. Para chamar imigrantes e travar emigrantes. "A ideia é reduzir as assimetrias em qualidade de vida e bem-estar. E apostar na qualidade dos equipamentos, fundamentais para manter as pessoas. O que obriga a investimento na saúde, lazer, segurança", sublinha.
Numa lógica difícil: quanto menos pessoas os territórios têm, menor o investimento, menores os serviços, o que leva a mais saídas e menos população. O que "nos obriga a parar para pensar", avisa Maria João Valente Rosa. Para "quebrar o paradigma do despovoamento".
Atacar nos descontos ou nos salários?
O caminho foi posto em cima da mesa por um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian. Face às previsões demográficas, o atual modelo de pensões é insustentável: ou se aumentam impostos ou se cortam benefícios sociais. Uma posição que não é consensual entre os especialistas. Para a professora da Nova de Lisboa Teresa Rodrigues, há outros caminhos, nomeadamente a "capacidade para que a população jovem se empregue nas áreas com competências" para as quais estudou. O que aumentaria as remunerações e, por conseguintes, as contribuições para a Segurança Social.