Confusão entre máscaras pode levar à propagação caótica da Covid
Má distinção entre máscaras artesanais e máscaras sociais na Alemanha e França pode levar a uma maior propagação da Covid-19 e colocar milhares de trabalhadores no desemprego.
Numa altura em que estão a surgir por todo o mundo novas estirpes da Covid-19, o governo alemão e francês decidiu proibir o uso de máscaras têxteis na rua, independentemente de serem artesanais ou certificadas.
ENTENDER AS DIFERENÇAS
As máscaras cirúrgicas e os chamados respiradores, onde se destacam as FFP2, para além de poderem ser apenas usadas pelo período entre 4 a 6 horas, são feitas maioritariamente em países como a China. O seu grau de filtrabilidade é de cerca de 94%, dependendo dos fabricantes, embora, muitas vezes, sejam alvo de contrafação e tenham menor qualidade de filtração.
No que diz respeito às máscaras reutilizáveis, existem alguns fabricantes de máscaras sociais de nível II, como a “Protect Others” que garantem, mesmo após 50 utilizações, uma taxa de filtração acima de 95% sem se deteriorarem.
Adicionalmente, alguns produtores, como a “Protect Others” aplicam um acabamento que inativa o vírus. Ou seja, este tipo de produtos equipara-se, no que toca à proteção, às máscaras FFP2, mas com a vantagem de inativar a Covid-19.
Agora este tipo de máscaras poderá deixar de ser usado naqueles países, privando os alemães e os franceses de armas eficazes contra o coronavírus.
MÁSCARAS SOCIAIS: NÍVEL II e NÍVEL III
As máscaras sociais certificadas têm dois tipos de proteção, o Nível II e o Nível III. As de Nível III têm uma eficiência de filtração de 70%. Já as de nível II garantem uma proteção de filtração sempre acima de 90%.
“Embora sejam feitas também de tecido, há uma grande diferença entre máscaras feitas em casa artesanalmente e máscaras como as da “Protect Others” que inativam o vírus, que conseguem ter uma eficiência de filtração superior a 95%, e que, por serem reutilizáveis 50 vezes, só por isso, representam 50 vezes menos poluição para o planeta”, afirma Pedro Braga, responsável da empresa “Protect Others” empresa de Santo Tirso.
“Estamos a falar de uma taxa de 2% de pegada ecológica quando comparada com uma descartável, ou FFP2, aquelas que estamos malogradamente acostumados a ver no chão”, lamenta o responsável da “Protect Others”.
“O papel dos Governos aqui é informar as pessoas e não desinformá-las, ou confundi-las como está a acontecer na Alemanha e na França”, prossegue.
“Parece uma guerra comercial, ou uma espécie de lobby, mas acreditamos que é apenas um mal-entendido que irá ser brevemente resolvido”, continua Pedro Braga.
“Muitas pessoas usam as máscaras descartáveis por bem mais do que 6 horas, que é o seu tempo máximo de utilização. Por vezes, usam-nas por vários dias e estas deterioram-se, perdendo as suas características e começando a tornar-se perigosas para as pessoas que as usam e para quem as rodeia”, continua o responsável pela “Protect Others”.
“O que sugiro, de forma a resolver este problema, para haver uma distinção entre as feitas em casa das que são certificadas como a nossa, que suplantam as FFP2 e as cirúrgicas em quase todos os aspetos, é que sejam obrigadas a terem uma etiqueta visível demarcando-as das de fraca qualidade”, afirma.
“As máscaras sociais como a nossa, e algumas outras no mercado são laváveis. Não apresentam os riscos das artesanais. São aliás a única arma não-poluente que a população tem para combater a Covid, até poderem tomar a vacina. As máscaras deste tipo reduzem o risco de erro humano, pois os utilizadores têm uma ideia mais consciente que a podem usar por um determinado período de tempo e quando têm que parar de as utilizar”, tece o responsável da “Protect Others”.
“Portanto, meter as máscaras feitas em casa na mesma categoria das de empresas como a nossa, não só é um erro grotesco que põe em causa a nossa atividade e milhares de postos de trabalho, como é um perigo de saúde pública, sem qualquer sentido”.
PROBLEMA RECONHECIDO PELA ATP
A opinião de Pedro Braga é partilhada pelo presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado.
"A máscara comunitária de nível II, a chamada máscara profissional, devidamente certificada garante o mesmo nível de proteção dos respiradores, os chamados FFP2 (…). O que parece estar em causa são as máscaras de fabrico doméstico, mas isso não pode servir de desculpa para meter tudo no mesmo saco", lamenta Mário Jorge Machado em declarações ao Jornal de Notícias.
Pedro Braga concorda. “Por isso é que existem os certificados, os testes laboratoriais e os rigorosos procedimentos pelos quais as nossas máscaras são submetidas”, afirma.
“Esta medida poderá afetar principalmente os países com maior peso da indústria têxtil no PIB, como os do Sul da Europa, e poderá ter consequência última o despedimento de milhares de trabalhadores e aumento maior ainda da taxa de contágios”.
O uso de máscaras é cada vez mais importante, principalmente atendendo ao crescimento de número de casos de Covid-19, e ao aparecimento das imprevisíveis novas estirpes. Entre as mais perigosas estão as da África do Sul e do Brasil, que para além de mais contagiosas, podem ser mais difíceis de combater pelo sistema imunitário, acreditam vários especialistas.
“Têm surgido notícias a passar a informação que a proteção das máscaras de tecido é pouco eficiente. De facto, existem máscaras sociais pouco eficientes no que toca à proteção, principalmente as que são feitas de forma “caseira” sem qualquer tipo de certificação. Outras que a meu ver não tem qualidade suficiente são as de nível III que só garantem 70% de eficiência de filtração. Não têm grande proteção, no entanto, são as máscaras que o Estado decidiu oferecer às escolas públicas”, critica o administrador da “Protect Others”. “É como se nos dissessem que o Governo iria comprar vacinas com apenas 70% de eficácia, quando existem no mercado vacinas com 90%. Não faz qualquer sentido”, considera.