Muitos portugueses “estão a usar máscaras erradas”
Loureço Aroso, diretor operacional da PPTex, diz não entender como as autoridades promovem o uso de máscaras comunitárias que oferecem apenas 70% de filtragem quando há alternativas que garantem mais de 90%.
Os portugueses estão a usar máscaras “que não protegem o suficiente” da Covid-19 e as autoridades “facilitaram” ao admitirem modelos que oferecem apenas 70% de filtragem, quando existem no mercado “alternativas que superam os 90%”. O alerta, em jeito de lamento, é de Lourenço Aroso, diretor operacional da empresa PPTex, de Santo Tirso, que produz as máscaras comunitárias Protect Others, com um grau de filtragem certificado acima dos 95%.
“Quando decidimos apostar forte na produção de máscaras tendo em vista a contenção da pandemia, tivemos resultados de 93% nos primeiros testes e disseram-nos que não seria suficiente. Agora, circulam no mercado máscaras aprovadas com uma proteção de 70%. Não faz sentido”, critica, garantindo que muitas pessoas “estão a usar máscaras erradas” por desconhecimento de causa e que, mesmo as máscaras que anunciam 70% de filtragem, nem sempre cumprem os requisitos. “Ainda na semana passada testámos algumas, inclusive daquelas que são dadas pelas câmaras municipais, e verificámos que ao fim de duas ou três lavagens já não apresentam sequer essa fiabilidade.”
Cabe ao fabricante garantir a conformidade destas máscaras com os requisitos legais (indicar se é de utilização única ou o número de lavagens admissível é um deles) e à ASAE fiscalizar. Em abril, após a Direção-Geral da Saúde ter admitido um uso mais abrangente das máscaras – durante os primeiros tempos da pandemia, recorde-se, perdurou a indicação de que não seriam necessárias -, o Infarmed categorizou-as em três níveis, de acordo com o tipo de utilizador. As de nível 1, mais sofisticadas, seriam exclusivas para os profissionais de saúde e doentes, as de nível 2 seriam destinadas aos profissionais com contactos frequentes com o público e as de nível 3 aos outros profissionais e à população em geral. As de nível 2, classificadas como artigo têxtil, implicam uma capacidade mínima de filtragem de 90%, enquanto as de nível 3, com igual classificação de artigo têxtil, ficam-se pelos tais 70%.
“Uma máscara cirúrgica, conforme o seu tipo, está acima dos 90, 95 ou 98 por cento de filtração. Se há empresas que produzem máscaras comunitárias de nível 2, dentro dessas percentagens de filtração, para quê deixar as pessoas andarem com as de nível 3?”, questiona Lourenço Aroso. “É uma imprudência, porque o vírus é o mesmo, dentro e fora dos hospitais”, acrescenta, antes de citar uma célebre frase de Graça Freitas, diretora-geral da DGS: “Certas máscaras só dão uma falsa sensação de segurança.”
A verdade é que os estudos científicos ainda não determinaram ao certo a eficácia das máscaras na proteção contra o vírus Sars-CoV-2. As evidências apontam para uma menor propagação em países que adotaram mais cedo o seu uso generalizado – é cada vez mais consensual a tese de que diminui a probabilidade de contagiar o outro -, mas subsistem dúvidas quanto à capacidade para impedirem o próprio utilizador de ser infetado por terceiros.
“O vírus é tão pequeno que eventualmente pode passar por qualquer máscara, mas se existe esse desconhecimento, sabendo que há máscaras que protegem mais do que outras, reduzindo a quantidade de gotículas que é expelida para o ar, então uma máscara que filtra mais nunca será pior”, remata o responsável da PPTex, uma empresa de vestuário que produz entre “30 a 35 mil” máscaras por dia.
Fonte: "Visão"