Segundo o DN, o único navio reabastecedor da Marinha portuguesa, o NRP Bérrio, vai ser abatido. A informação foi transmitida esta terça-feira numa reunião de Comados na base Naval pelo próprio Chefe de Estado-maior da Armada (CEMA) Almirante Mendes Calado. O porta-voz oficial do seu gabinete confirmou ao DN a decisão em relação a um navio fundamental para a sustentação e apoio logístico de forças navais nacionais e internacionais.
Até ter uma alternativa, que "está a ser estudada", garante esta fonte autorizada, a Marinha fica com a sua capacidade de projeção drasticamente limitada, pois não será possível apoiar navios a longas distâncias no mar - por exemplo em casos de emergência civil, como o que aconteceu em outubro na ilha das Flores.
Há um ano, a Marinha apostava tudo numa reparação profunda do Bérrio - adquirido à Inglaterra em 1993 já com 26 anos de navegação - que permitiria prolongar a sua 'vida' por mais 10 anos. Mas os cálculos estavam errados e agora a Lei de Programação Militar só prevê a aquisição de um novo reabastecedor em 2027.
"De facto, estava previsto que o NRP Bérrio iniciasse uma ação de manutenção profunda, para estender o seu já longo ciclo de vida por mais 10 anos, tendo em consideração que a Lei de Programação Militar apenas prevê o início do processo de aquisição de um novo navio reabastecedor em 2027", explica o porta-voz. "Porém, nos preparativos para elaboração da lista de fabricos, foi realizada uma inspeção profunda ao navio, indicando que a necessidade de intervenção no navio é muito superior ao inicialmente previsto, pelo que as necessidades de intervenção seriam muito mais extensas e onerosas", acrescenta.
A Marinha ponderou "a informação constante no relatório da inspeção, a estimativa da despesa na possível reparação e o ciclo de vida do navio (a atingir perto de 50 anos)" e chegou à conclusão que "a sua reparação não é viável, quer do ponto de vista operacional, quer do ponto de vista económico". Segundo ainda o porta-voz, "oportunamente, dar-se-á início ao processo de abate do navio ao efetivo dos navios de guerra da Marinha".
"Tempestade perfeita"
O NRP Bérrio foi construído nos estaleiros Swan Hunter em Wallsend-on-Tyne no Reino Unido e foi lançado à água a 11 de novembro de 1969. Entrou ao serviço da Royal Fleet Auxiliary (RFA) em 15 de julho de 1970. Foi adquirido e aumentado ao efetivo dos navios da Armada Portuguesa em 31 de março de 1993, com o objetivo de substituir o NRP São Gabriel, tendo sido batizado com o nome NRP Bérrio. Tem 86 tripulantes.
Herdou o nome de uma das caravelas da frota de Vasco da Gama quando este descobriu o caminho marítimo para a Índia. Chamou-se "Bérrio", por ter sido comprada a D. Manuel Bérrio, um piloto natural de Lagos muito considerado no reinado de D. Manuel.
Segundo a Marinha, trata-se de um "navio fundamental para a sustentação de uma Força Naval no mar garantindo apoio logístico a diversas Forças Navais nacionais ou aliadas. Por rotina, participa em exercícios nacionais e internacionais, sendo fundamental para o treino e aprontamento de outras unidades navais".
Já participou "em diversos teatros de operações e missões no âmbito do apoio à política externa do Estado, nomeadamente: Operação "Sharp-Guard" no Mar Adriático, em 1995, Operação humanitária na República da Guiné-Bissau, em 1998, Operação Manatim, em 2012, pronto para evacuar da Guiné-Bissau cidadãos nacionais e de países amigos".
O ex-deputado da Comissão de Defesa, João Rebelo, que acompanhou a discussão no parlamento sobre a situação crítica do Bérrio, não esconde "alguma emoção" com o abate "de um navio de referência que faz parte da nossa história e prestou tantos relevantes serviços à Pátria". O centrista acredita que a Marinha "vai, como sempre, encontrar uma solução", mas sublinha que se está perante uma "tempestade perfeita: o Bérrio não pode ser reparado e a LPM só prevê adquirir um novo reabastecedor em 2027".
Fonte:DN