Fogo chegou à vila de Monchique. Pode haver casas queimadas
O comandante nacional da Proteção Civil, Duarte da Costa, admitiu, este domingo, a possibilidade de haver casas queimadas no fogo que lavra desde sexta-feira no concelho de Monchique.
Às 0.20 da madrugada desta segunda-feira, o fogo que rodeia a vila algarvia de Monchique, e que já terá queimado um número indeterminado de habitações, chegou a escassos metros do quartel dos Bombeiras Voluntários de Monchique e do centro operacional de comando. Foi repentinamente, levando à saída imediata de dezenas de operacionais. No pátio do quartel, no centro da vila de 6 mil habitantes, viam faúlhas pelo ar. A situação é preocupante.
Este fogo, que está ativo desde as 13.30 horas de sexta-feira, obrigou, esta noite de domingo, à retirada da população para o centro da vila, por questões de segurança.
"Num conjunto de pequenas povoações ao longo do incêndio, pode ter havido casas isoladas que podem ter sofrido as ações das chamas", disse o comandante operacional nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Duarte da Costa, durante uma conferência de imprensa, na sede da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), em Carnaxide, Oeiras, onde foi feito o ponto de situação sobre as operações dos últimos dias.
O comandante contou que o incêndio chegou com a sua frente mais ativa à bacia de uma barragem, uma "boa condição" para que o fogo "pare aí e não haja mais projeções", acrescentando que o combate noturno será também feito "com as forças que neste momento se deslocam de todo o país para a região algarvia", aumentando a quantidade de operacionais no teatro de operações.
Nas próximas 24 horas "vamos tentar aproveitar aquilo que é uma inversão térmica das condições atmosféricas, muito adversas nas últimas noites, aproveitar o aumento da humidade relativa que esta noite se prevê que chegue aos 50%, e um ligeiro abaixamento de temperatura, com todos os meios que se estão neste momento a dirigir para sul, nomeadamente cinco grupos de combate, força especial dos bombeiros, Forças Armadas e GNR, para que possamos durante a noite conseguir conter finalmente este incêndio que já dura há tempo demais", explicou Duarte Costa.
"Com alguma prudência eu diria que as situações ideais para o controlo de incêndio serão, não hoje à noite, mas na noite de amanhã, em que já temos 100% de humidade. Mas vamos fazer todos os possíveis, com toda a gente que temos a trabalhar para conseguirmos controlar o incêndio que deflagra neste momento naquela região (...) Temos um incêndio grande, este não o conseguimos dominar, vamos fazer tudo para o dominarmos hoje à noite", assegurou o mesmo responsável.
Duarte da Costa apelou às populações para que "não entrem em pânico" e que respeitem as ordens dos operacionais no terreno.
O responsável classificou o incêndio de Monchique como "preocupante, mas controlado", destacando o mais importante: "as pessoas estão salvaguardadas".
"Tiraram-nos de casa só com a roupa no corpo"
Quem é deslocado de casa pelas autoridades para evitar ser apanhado pelo fogo é transportado para a escola EB 2/3 de Monchique, junto ao quartel dos bombeiros voluntários.
"Tiraram-nos de casa só com a roupa no corpo e até sem dinheiro para beber um café", disse à agência Lusa Carlos Almeida, que foi transportado para a escola com a mulher e a neta, depois de ser retirado da casa onde reside, a cerca de dois quilómetros a nordeste de Monchique, cerca das 16 horas. Carlos Almeida disse ter já tentado regressar a casa para perceber como estão as suas posses, mas as autoridades "continuam a não deixar passar para voltar", porque "dizem que o fogo ainda lá está".
Com o final da tarde, o aproximar do fogo à vila de Monchique e a situação operacional a complicar-se, o número de pessoas que chegaram à escola aumentou. No grupo dos que foi chegando está António Joaquim da Silva, de 85 anos, que vive a cerca de um quilómetro da localidade algarvia, pertencente ao distrito de Faro.
"Em 2003 também houve um grande incêndio, mas este é pior", considerou este idoso, que foi abordado pela GNR quando já se preparava para deixar a sua casa por vontade própria a "perguntar se não precisavam de voltar para me tirar de lá". O idoso disse ter respondido que "não era preciso voltarem" para o apanhar e veio para a Monchique por vontade própria, perto das 17 horas.
O presidente da Junta de Freguesia de Monchique está desde o início do incêndio a prestar apoio junto à sede do órgão autárquico, que se situa ao lado da escola, onde a sua mulher é diretora. "Eu também tenho filhos e mãe e trouxemos todos para aqui para evitar qualquer problema, porque o fogo estava na encosta atrás", disse José Duarte da Silva.
Marcelo: "É uma coisa brutal em termos de capacidade de resposta"
"Estou ao longo do dia em permanente contacto com o senhor ministro da Administração Interna, começa logo às nove da manhã, quando temos o primeiro contacto, dura ao longo do dia e ainda há pouco tempo tive um novo contacto. Estou a acompanhar o que se passa", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações à RTP3.
Considerando que os 900 operacionais que estão mobilizados para o incêndio em Monchique, que deflagrou na sexta-feira, "é uma coisa brutal em termos de capacidade de resposta", sem pôr em risco o restante território nacional, o chefe de Estado reconheceu diferenças em relação ao que se passou no ano passado nos fogos de junho e de outubro.
"Acho que se olhar para os meios que estão a ser utilizados, há aqui uma diferença de meios muito significativa, meios aéreos por um lado, meios no terreno por outro lado, a forma de estrutura e de prevenção", referiu, ressalvando, contudo, que o mês de agosto ainda está no início.
De qualquer forma, insistiu, "neste momento a situação é uma situação circunscrita e limitada e isso faz diferença indiscutivelmente ao que se viveu antes de junho do ano passado e ao que se viveu entre junho e outubro".
Por sua vez, o ministro da Administração Interna manifestou "total confiança e solidariedade" na estrutura da Proteção Civil e nos milhares de operacionais que estão a combater os incêndios, sobretudo o que lavra no concelho de Monchique, distrito de Faro. "Queria apenas, neste momento, transmitir uma manifestação de total confiança e de total solidariedade nos milhares de operacionais dos bombeiros, da GNR, das Forças Armadas, de toda a estrutura de Proteção Civil, das entidades que têm cooperado no terreno" e sublinhar a "articulação exemplar com a Câmara Municipal de Monchique", afirmou Eduardo Cabrita, esta noite de domingo, na sede da Autoridade Nacional de Proteção Civil, em Carnaxide, Oeiras.
União Europeia pronta para ajudar Portugal
O comissário europeu para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, Christos Stylianides, declarou hoje que a União Europeia está a acompanhar atentamente a situação do incêndio na zona de Monchique, distrito de Faro, e está "pronta para ajudar". Na rede social Twitter, o comissário indicou também que "Portugal pediu a produção pelo Serviço Copérnico de Gestão de Emergências de mapas satélite dos incêndios que estão a afetar a zona de Monchique".
Fonte: JN