Os homens do voleibol por trás da “sensação única da subida”
As mãos tão perto do céu! Cinco décadas depois, o voleibol masculino do Ginásio Clube de Santo Tirso voltou ao topo.
Há três semanas o voleibol do Ginásio Clube de Santo Tirso voltou a sonhar. A subida da equipa sénior masculina à primeira divisão nacional invadiu de orgulho uma cidade que esperava ansiosamente por este tão glorioso momento. Por trás dele estiveram homens determinados, capazes de mover montanhas pelo clube do seu coração.
Miguel Pinto é professor de educação física e trabalha em Vizela há cerca de 30 anos. Atualmente veste a pele de vice-presidente e responsável pela secção de voleibol. Embarcou voluntariamente neste projeto, onde dedica grande parte do seu dia e admite, sem pestanejar, que a instituição mais eclética do concelho se tornou numa extensão das paredes da sua casa.
Com uma história de família ligada ao GC Santo Tirso, Hugo Sousa reconhece que é membro da comunidade ginasista desde sempre. O seu percurso como treinador da equipa sénior já vem de longe, mas o futuro está bem perto. O sonho da subida aconteceu e avizinham-se tempos de trabalho e muita dedicação.
Santo Tirso TV: Esta época teve um significado diferente e especial para o voleibol do Ginásio Clube de Santo Tirso. Qual foi a sensação depois do final do jogo que ditou a subida da equipa sénior à 1ª divisão nacional?
Hugo Sousa: Foi mesmo uma sensação única que acaba por ser o culminar de um trabalho muito longo e planeado. Sempre cientes das limitações do clube, conseguimos atingir algo que já ambicionávamos há imenso tempo e, agora, é aproveitar este momento para finalmente passarmos para outro patamar com a exigência que o mesmo impõe, isto se nos quisermos manter na primeira divisão.
STTV: Atravessamos um período complicado em que os treinos foram suspensos e as competições estiveram condicionadas. Como foi passar por toda esta “tormenta” e no final conseguir alcançar um feito tão glorioso para o clube?
HS: O processo foi longo… O campeonato 19/20 foi parado a meio e, por consequência, não houve descidas. Por esse motivo, teve que haver um Play Off de subidas, ao qual o ginásio teve acesso. Por norma começávamos a treinar em setembro, já no limite em finais de agosto, mas nós iniciamos o trabalho em julho, ou seja, a nossa época teve 13 meses. Tivemos duas grandes paragens, fizemos cerca de 140 treinos presenciais, outros tantos não presenciais, para nos prepararmos. Foi uma época muito longa... Tivemos um Play Off em setembro, em que o disputamos com muito orgulho e com muita crença, mas tivemos duas equipas que eram superiores a todas as outras, nomeadamente o Póvoa e o Ala de Gondomar. A partir daí, traçamos um objetivo claro, em que acreditamos que poderíamos subir e que queríamos fazê-lo na linha daquilo que já era perspetivado há alguns anos atrás.
STTV: Também não houve a presença dos vossos apoiantes. Isso “mexeu” com a equipa e com o clube?
HS: Tivemos uma situação pontual, num ou dois jogos, com muitas limitações no pavilhão. Só podíamos ter 1/3 do público e depois voltamos outra vez a confinar com todas as restrições impostas. É óbvio que essa situação abalou a equipa, uma vez que não tinham ali o apoio presencial de quem nos segue.
Miguel Pinto: Há pouca gente aqui em Santo Tirso que não tem uma ligação ao Ginásio, pela razão de ser um clube muito eclético e acabou por ter sempre bastante gente envolvida, não só no voleibol, mas em todas as modalidades. Apesar de não ser física, a força da comunidade tirsense chegava até nós por outras vias, acabando também por ser expressa nas redes sociais. Esperamos, sobretudo, que tudo volte à normalidade e que esse apoio se possa traduzir em presenças nos jogos.
STTV: Falando dos objetivos futuros, o que ainda está por vir?
HS: O objetivo passa claramente por ficar na primeira divisão e criar uma equipa competitiva dentro das nossas possibilidades. É uma oportunidade que nos surge e não é só uma oportunidade para o ginásio, nem para mim treinador, nem para a secção de voleibol. É efetivamente uma oportunidade para toda a comunidade tirsense se envolver e mostrar que temos capacidade para sermos fortes e grandes, mantendo a linha e uma identidade muito própria daquilo que é que a nossa cidade.
STTV: Miguel, a primeira divisão implica certamente mais esforço financeiro. Como é que o clube está a pensar adaptar a sua gestão nesta fase?
MP: Em primeiro lugar importa dizer que o principal objetivo é a manutenção. Neste momento temos que contribuir para aquilo que é a sustentabilidade financeira do clube, sem esquecer os objetivos competitivos e as nossas obrigações. O que temos que fazer é conciliar o facto de termos um clube bastante eclético e é importante estabilizar a instituição do ponto de vista financeiro, ao mesmo tempo que reunimos os custos mínimos para conseguir uma equipa que tenha algum potencial para se segurar na primeira divisão. É importantereferir que nós começamos este processo muito atrasados. A primeira divisão acabou a época cerca de meados de abril e nós, neste momento, estamos a olhar para o mercado nacional sabendo que não existem atletas por colocar, porque a primeira divisão já fez esse trabalho a nível das contratações.
STTV: A estratégia aqui vai também passar por dar oportunidade à formação?
MP: Dar oportunidade aos atletas de formação do GCST direi que é um o resultado óbvio porque nós somos um clube formador e face aos constrangimentos que tivemos, não temos muito para fazer a não ser recorrer a esse potencial humano. Claro que também não podemos descorar a questão competitiva, porque se queremos manter a equipa na primeira divisão, precisamos de reunir capacidade sob o ponto de vista de rendimento. O que temos feito que é apelar à comunidade tirsense para a importância que tem um projeto desta natureza para a cidade. Vivemos de um caráter associativo e todas as pessoas que colaboram connosco, no caso da secção de voleibol, são amadoras e, portanto, nós temos que atrair apoios de gente que possa ajudar a levar este projeto para a frente. O projeto de voleibol é o mais antigo do Ginásio Clube de Santo Tirso e cabe-me fazer tudo o que está ao meu alcance para reunir essas condições, para que o clube possa segurar-se nesta primeira divisão com qualidade.
STTV: O Ginásio é uma segunda casa?
HS: No meu caso é a primeira! Acabo por passar mais tempo aqui do que em casa com a minha família. Tenho uma filha de dois anos e ela foi muito sacrificada. Se calhar fui uma das poucas pessoas que agradeceu o confinamento e até levantei um bocadinho as mãos para cima, no sentido que tive ali uma oportunidade única de poder vivenciar e acompanhar algo que, em situação normal, não teria a mínima hipótese. Com isso acabei por ser um pai muito presente e soube-me muito bem. É aproveitar ao máximo e acho que a vida é feita de momentos, portanto quando estou com ela não estou a 100, mas estou a 200. Tal como eu, todas as pessoas que aqui trabalham passam imenso tempo dentro destas paredes, mas faz parte.
MP: Quando temos uma ideia de colaboração nem nos apercebemos de como é que estamos a gerir o tempo diário. No meu caso, a família está praticamente aqui. A minha esposa também esteve durante muito tempo ligada à instituição como seccionista e como treinadora de voleibol. Basicamente fazemos disto uma extensão das paredes de casa e, no nosso caso em particular, as coisas reuniram-se para que a vida rumasse nesse sentido.