
Mês da Mulher assinalado por todo o concelho
Foram várias as mulheres que estiveram em destaque em outdoors criados pela autarquia para celebrar a emancipação feminina.
Os cartazes a celebrar o Mês da Mulher, espalhados ao longo do concelho, contando a vida de 10 notáveis tirsenses, irão estar expostos até ao final do corrente mês. A Santo Tirso TV dá-lhe a conhecer as histórias de quatro destas corajosas mulheres. Uma bombeira, uma mecânica, uma comerciante e uma tenista.
Ana Paula Vieira, tem 50 anos e é bombeira há quinze, “embora esteja aqui [Associação Humanitária de Bombeiros de Vila das Aves] há mais, sem estar inscrita. Naquela altura, entrava-se mas não se fazia as inscrições. O meu pai foi comandante durante 16 anos (…). A minha mãe - ainda era o quartel velho - também participava, conduzia ambulâncias. Os bombeiros sempre fizeram parte da vida da família”.
Ana Paula Vieira diz que sempre foi “muito bem recebida por todos na corporação. Nunca tive complicação nenhuma. Simplesmente exigiam mais de nós [mulheres]. Tínhamos de dar mais, sempre com receio de falhar (…). As primeiras vezes que entrei no [hospital] São João achavam muita piada por ser uma mulher a conduzir. Não era normal. Agora já se vê muito… naquela altura não!", diz
"Ainda hoje se sente o medo que os doentes têm por sermos nós [mulheres] a pegar... por exemplo, para tirar de uma cadeira de rodas. Têm medo que não tenhamos força e os deixemos cair”, comenta divertida. “Neste momento, faço transporte de doentes não-urgentes para o Porto. Já estou nesse serviço há seis anos. As mulheres são muito mais atenciosas”, assegura com um tom convicto.
Brigitte Antunes de 44 anos, tem igualmente uma invulgar profissão para uma mulher. “Esta oficina é do meu pai. Ele, como não teve rapazes, teve que ser rapariga. Eu tinha dez anos quando vim de França (…). Montou a oficina e a partir dessa idade passei a ajudá-lo (…) Sempre quis que continuasse a trabalhar (…). O meu sonho era a área de medicina. Fiz o 12º ano e fui ficando”. Mas Brigitte não se lamenta. “Eu gosto do que faço. Isto é apaixonante e é o que sei fazer. Já lá vão mais de 20 anos! Senti muitas dificuldades a nível de colegas de trabalho e a nível de clientes... tinha colegas que não me deixavam tocar no carro! Não tinham confiança, não queriam e não falavam para mim”, desabafa.
"Foi muito complicado cativar o cliente! Hoje em dia, tenho clientes que só querem o meu trabalho. As mulheres sempre foram as minhas aliadas! (...) Tive muitos colegas – eles não me respeitavam – mas aos pouquinhos fui cativando-os. Pus-me sempre no lugar de colega de trabalho e não de patroa”, enfatiza. “Tenho a mesma força de um homem. Por acaso, não conheço mais nenhuma mulher mecânica (…). É pena! Há trabalhos que o meu pai me chama para fazer porque nós somos mais delicadas e há coisas que têm que ser feitas com paciência, com minúcia”.
Outra mulher do concelho que ultrapassou obstáculos notáveis para chegar onde chegou hoje foi Vitória Andrade. Com um nome como presságio, tem 24 anos e desde 2013 que vem acumulando títulos, como o do Campeonato Regional Norte de ténis de mesa. Três para ser mais preciso (2013/2014, 2014/2015 e 2015/2016), e ainda foi vencedora no ano transato do Campeonato de Portugal, tendo ainda obtido o lugar cimeiro na classificativa para campeonatos individuais.
“Já faz quatro anos que comecei a jogar. Começamos a treinar aqui [na CAID] (…). Desde o ano passado tenho treinado aqui e à terça e à quarta-feira no Ginásio Clube de Santo Tirso (…). Fui aos primeiros campeonatos e ganhei medalhas. Tenho o quarto cheio de medalhas e três taças! A primeira vez [que participei] senti-me orgulhosa de mim própria. Quando perco fico logo nervosa, mas agora controlo mais as emoções”, diz a atleta que pode agradecer à CAID o início da sua carreira.
A mais velha das nossas destacadas, Graciosa Barbosa, tem 84 anos. Não é padeira, mas pode quase literalmente afirmar ter tratado do “pão que o diabo amassou”. Diz ela que “muita gente quer a vida de antigamente. Eu não - ao que passei - esta vida é uma riqueza!", confessa.
"Passei fome velha! Chegava ao fim e não comia! (…) À segunda-feira ia para a feira de Santo Tirso, à terça íamos para o Porto, à quarta para Famalicão, à quinta, para a Santana em Riba D`Ave.
Ao sábado ia para Gaia. Comecei [a vender galinhas] com catorze anos, mas ainda não era galinheira, vendia fruta e ovos. Era [cá] uma vida!... Saíamos de casa às duas da manhã, com os cestos na cabeça. Estávamos no Porto às 8h30, 9h00 (…). Levava uns dezoito, dezasseis [frangos] na cabeça. Acabávamos de vender e vínhamos para a Fontinha ou para o Marquês. Vinha o carro eléctrico e a seguir o atrelado (…).
Eu, há seis anos ainda andava [a vender] (…). Tinha saudades! Nessa altura já não tinha o cesto, levava em sacos. Muitas vezes andava com eles no braço. Andava por Gaia, por Santo Ovídio, por Matosinhos. Ia de camioneta daqui para o Porto, para o Bolhão (…). No princípio, ninguém me levava. “Ó minha senhora… Frangos?! Mas depois viram aquele colega a levar-me e eu mal chegava à porta do Bolhão e já todos me levavam”, concluiu a senhora.