Copiloto trancou-se no cockpit e provocou queda do avião
Procurador responsável pela investigação judicial admitiu que o copiloto se trancou no cockpit e não permitiu o regresso do comandante. Depois deu início à descida do avião.
A queda do Airbus 320 foi provocada de forma “deliberada” e “voluntária” pelo copiloto, que se trancou no cockpit e acionou o botão para iniciar a descida do aparelho, aproveitando a saída momentânea do comandante. A informação foi revelada esta manhã pelo procurador francês, Robin Price, responsável pela investigação.
A descoberta da caixa negra do avião foi a peça que faltava aos investigadores para explicarem a, aparentemente inexplicável, queda de uma aeronave que tinha sido vistoriada na véspera do acidente. Na conferência de imprensa, o procurador de Marselha começou por relatar os últimos 30 minutos do A320.
“Os primeiros 20 minutos têm um diálogo normal, cortês. Não aconteceu nada de diferente. Depois ouve-se o capitão a preparar o briefing para aterrar em Düsseldorf. O copiloto responde. O capitão pede ao copiloto para tomar conta do avião e ouve-se a cadeira a mover-se e a porta a fechar-se…”.
Depois, o silêncio. “O copiloto ficou sozinho. Quando está sozinho acionou a descida do avião. Acionou o piloto automático para descer. Para baixar, tem de ser uma ação voluntária. Ouve-se o capitão a pedir o acesso. Ele identifica-se. Não há resposta do copiloto. Bateu à porta, e não teve resposta. Ouve-se a respiração do copiloto até ao final. Respiração normal. Ouve-se a torre de controlo de Marselha várias vezes, sem resposta do copiloto”.
Entretanto, foi também revelado o nome do copiloto que terá voluntariamente provocado a descida da aeronave: Andreas Lubitz. Alemão, de 28 anos, estava há seis meses a trabalhar na companhia aérea alemã. Tinha 630 horas de voo. Apesar de estarem ainda em aberto todas as possibilidades, Carlos Yárnoz, responsável do El País em Paris, sublinhou que não há nenhum dado que relacione o copiloto com atividades terroristas.
Uma versão confirmada, de resto, pelo próprio procurador francês. Tanto o piloto como o copiloto “não estão na lista de terroristas, se é isso que pergunta”, afirmou Robin Price, em resposta à pergunta de um jornalista.
A Lufthansa e a Germanwings já reagiram às conclusões da investigação conduzida pelas autoridades francesas e voltaram a enviar mensagens de condolências aos familiares e amigos das vítimas. A companhia mãe prometeu realizar uma conferência de imprensa ainda esta tarde.
“Estamos abalados pelas declarações perturbadoras das autoridades francesas. Nossos pensamentos e orações continuam a ser com as famílias e amigos das vítimas. A próxima conferência de imprensa terá lugar esta tarde, às 14:30 (hora alemã)”.
A hipótese da queda do avião ter sido uma ação voluntária já tinha sido avançada na quarta-feira. Rémy Jouty, responsável do gabinete de investigação de acidentes aéreos (BEA), admitira que os pilotos do A320 da Germanwings poderiam ter provocado o acidente de forma deliberada, conta o El País.
Jouty explicara que a trajetória do avião “não era compatível com um avião controlado pelos pilotos” nem com um avião em “piloto automático”, algo confirmado esta quinta-feira pelo responsável pela investigação.
Uma teoria que começou ganhar cada vez mais força depois de se saber que um dos pilotos saiu do cockpit antes do embate e que nunca voltou a entrar, embora tenha tentado. Segundo uma fonte aérea ouvida pelo Observador, o piloto que fica do lado de fora consegue sempre ter acesso ao interior, recorrendo a códigos que permitem contornar um eventual problema com o piloto no cockpit, ou até quando este está vazio. Há, porém, duas exceções: a porta não abrirá se for bloqueada pelo lado de dentro. Ou em caso de falha técnica, como explica nesta entrevista o El País. A imagem em baixo ajuda a perceber o mecanismo de acesso ao cockpit.
Também o El País começou por desenvolver esta teoria, que, mais tarde, se veio revelar acertada. Assumindo que foi, de facto, uma ação voluntária, ficaria explicado um dos grandes mistérios verificados nos últimos dias: por que os pilotos não contactaram com os controladores de Aix-en-Provence nem emitiram o sinal de emergência, que primeiro foi anunciado e depois desmentido.
O A320 da Germanwings que ligava Barcelona a Düsseldorf caiu terça-feira nos Alpes franceses, com 150 pessoas a bordo. Ninguém sobreviveu. Angela Merkel, François Hollande e Mariano Rajoy estão no local a acompanhar as incidências. Os cerca de 600 elementos das equipas de salvamento no local tentam resgatar os corpos das vítimas.
Fonte: Observador