Estimulação elétrica na medula ajuda 3 paraplégicos a voltar a andar
Uma equipa de cientistas suíços desenvolveu uma técnica inovadora de estimulação elétrica, aplicada na espinal medula de três paraplégicos, que, combinada com fisioterapia, permitiu que os pacientes voltassem a andar com ajuda de muletas ou de um andarilho.
Com uma técnica de estimulação elétrica na espinal medula, três paraplégicos conseguiram voltar a andar. Este foi o resultado do trabalho de uma equipa de investigação suíça, que implantou elétrodos na zona lombar da espinal medula de três pacientes.
Uma estimulação elétrica que, combinada com sessões de reabilitação quase diárias, ao longo de cinco meses, fez com que os suíços David Mzee e Sebastian Tobler e o holandês Gert-Jan Oskam, que sofreram lesões na espinal medula há mais de quatro anos, conseguissem voltar a andar com a ajuda de muletas ou de um andarilho.
A técnica inovadora foi testada inicialmente em ratos, em 2014, e em macacos, 2016, e agora chega aos humanos. Os resultados estão publicados nas revistas especializadas Nature e Nature Neuroscience.
"Dar um, dois, três passos sem as mãos nas barras paralelas... foi uma loucura, porque antes, simplesmente, não conseguia andar", afirmou David Mzee, citado pelo jornal El País.
Com esta técnica, a equipa de cientistas, liderada pelo neurocirurgião Grégoire Courtine, da Escola Politécnica Federal de Lausanne, Suíça, pôde observar que os três pacientes recuperaram o controlo voluntário dos músculos das pernas, mesmo sem estimulação elétrica.
Ajudar o cérebro
De acordo com a Escola Politécnica Federal de Lausanne, o método, designado por STIMO (Stimulation Movement Overgriound), permite que a função neurológica se mantenha, mesmo sem estimulação eletrónica. Isso deve-se, explica a equipa de cientistas, à estimulação direcionada a zonas muito específicas e temporizadas, em vez de ser contínua. Segundo Couthrine, a estimulação elétrica é realizada "com a precisão de um relógio suíço".
Jocelyne Bloch, médica de neurocirurgia do hospital universitário de Lausanne, que colocou cirurgicamente os implantes nos três pacientes detalha: "implantamos um conjunto de elétrodos sobre a medula espinal que nos permite atacar grupos musculares individuais nas pernas". Ou seja, foram "configurações selecionadas de elétrodos" que ativaram "regiões específicas da espinal medula, imitando os sinais que o cérebro forneceria" para os pacientes andarem.
Uma estimulação elétrica que é controlada em tempo real através de sensores nos pés dos pacientes, que enviam impulsos para os elétrodos implantados na zona lombar, mas não de uma forma contínua de modo a imitar os sinais elétricos enviados pelo cérebro.
Uma semana após o início do tratamento, os resultados começaram a ser visíveis. "Todos os pacientes conseguiam andar usando o peso corporal numa semana. Soube imediatamente que estávamos no caminho certo ", afirmou Bloch.
"Foi incrível ver estes pacientes moverem as pernas sem estimulação elétrica", disse a especialista no vídeo divulgado pela Escola Politécnica Federal de Lausanne. Nas imagens é possível ver o suíço David Mzee a caminhar sem recorrer a qualquer tipo de ajuda.
Apesar do sucesso, neurocirurgião é cauteloso
"As nossas descobertas são baseadas numa profunda compreensão dos mecanismos subjacentes que adquirimos através de anos de pesquisa em animais. Fomos capazes de imitar em tempo real como o cérebro naturalmente ativa a espinal medula", explica, por sua vez, Coutrine, que, ainda assim, mostra-se cauteloso com os resultados conseguidos". É ótimo andar no laboratório, mas não é suficiente, ainda há muito a fazer.
O próximo passo para esta equipa de cientistas é aplicar o método logo após uma lesão na espinal medula quando a probabilidade de recuperação é maior.
Estimulação elétrica nos EUA
Em setembro deste ano, nos EUA, uma equipa de cientistas revelou os resultados que obteve ao recorrer à estimulação elétrica em três paraplégicos. Foi colocado um dispositivo elétrico na coluna vertebral nos três pacientes que permitiu, em conjugação com meses de intensa reabilitação, que voltassem a andar.
Mas o avanço alcançado não se pode considerar uma cura, sublinharam os investigadores, uma vez que os pacientes apenas conseguiam caminhar com assistência, seja de um andarilho ou outra qualquer ajuda que lhes permita manter o equilíbrio. Ao ser desligado o estímulo elétrico, os pacientes voltaram a não conseguir mover as pernas de forma voluntária.
A diferença entre os dois estudos centra-se na forma como é aplicada a estimulação elétrica. Enquanto a equipa suíça estimula a espinal medula de forma direcionada, nos EUA, os cientistas optaram por fazê-lo de forma contínua.
Fonte: "DN"