Ministra da Administração Interna demitiu-se
Constança Urbano de Sousa diz que agora tinha mesmo de deixar cargo "para preservar dignidade pessoal"
A ministra da Administração Interna pediu a demissão e António Costa aceitou, informa o gabinete de António Costa. Constança Urbano de Sousa não resistiu à polémica dos incêndios, às críticas e ao discurso do presidente da República.
"A ministra da Administração Interna apresentou-me formalmente a demissão em termos que não posso recusar", diz o primeiro-ministro na nota enviada às redações.
No comunicado, António Costa agradece publicamente "a dedicação e empenho com que [a ministra] serviu o País no desempenho das suas funções".
A ministra da Administração Interna diz na carta de demissão enviada ao primeiro-ministro que pediu para sair de funções logo a seguir à tragédia de Pedrógão Grande, dando tempo a António Costa para encontrar quem a substituísse.
"Logo a seguir à tragédia de Pedrógão pedi, insistentemente, que me libertasse das minhas funções e dei-lhe tempo para encontrar quem me substituísse, razão pela qual não pedi, formal e publicamente, a minha demissão", escreve a Constança Urbano de Sousa.
A ministra diz que o fez "por uma questão de lealdade" e que o primeiro-ministro, na altura, lhe pediu para se manter em funções.
"Pediu-me para me manter em funções, sempre com o argumento que não podemos ir pelo caminho mais fácil, mas sim enfrentar as adversidades, bem como para preparar a reforma do modelo de prevenção e combate a incêndios florestais, conforme viesse a ser proposta pela Comissão técnica Independente", refere a carta da ministra.
"Manifestou-me sempre a sua confiança, o que naturalmente reconheço e revela a grandeza de caráter que sempre lhe reconheci", acrescenta.
Constança Urbano de Sousa sublinha que aceitou assumir funções no Governo de António Costa "apenas com o propósito de servir o País e o Governo", a que teve "a honra de pertencer".
A responsável pela pasta da Administração Interna diz ter voltado, durante a tragédia deste fim de semana, a solicitar que, logo após o seu período crítico, António Costa aceitasse a cessação de funções, acrescentando: "apesar de esta tragédia ser fruto de múltiplos fatores, considerei que não tinha condições políticas e pessoais para continuar no exercício deste cargo, muito embora contasse com a sua confiança".
LEIA AQUI A CARTA DA MINISTRA:
"Tendo terminado o período crítico desta tragédia e estando já preparadas as propostas de medidas a discutir no Conselho de Ministros extraordinário de dia 21 de outubro, considero que estão esgotadas todas as condições para me manter em funções, pelo que lhe apresento agora, formalmente, o meu pedido de demissão, que tem de aceitar, até para preservar a minha dignidade pessoal", conclui a ministra na carta enviada a António Costa.
Quando demitir-se era "o mais fácil"
Na segunda-feira, questionada pelos jornalistas sobre se tinha condições para continuar no cargo - quando o número de mortos nos incêndios de domingo na região Centro ainda não chagara aos 41 como no último balanço -, a ministra tinha dito que demitir-se era "o mais fácil".
"Para mim seria mais fácil, pessoalmente, ir-me embora e ter as férias que não tive, mas agora não é altura de demissões", afirmou a ministra aos jornalistas, depois de questionada várias vezes sobre as suas condições para permanecer no cargo.
"Neste momento estamos a viver uma tragédia, acho que não é o momento para a demissão, é momento para a ação para mudar aquilo que tem que ser mudado", declarou aos jornalistas a seguir a uma reunião com a Autoridade Nacional de Proteção Civil, em Carnaxide, Oeiras.
Dias antes, aquando da divulgação do relatório da Comissão independente sobre a tragédia de Pedrógão, Constança Urbano de Sousa também reafirmara a intenção de permanecer no cargo. E na sequência desses incêndios que mataram 64 pessoas a 17 de junho, a ministra também havia dito que demitir-se não resolveria o problema.
Esta manhã, a RTP avançou que o secretário de Estado da Administração Interna havia pedido a demissão, uma informação desmentida pelo MAI. A televisão pública dizia ainda que haveria outras demissões.
Ontem à noite, num discurso de 10 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa enviou vários recados ao Governo, nomeadamente sobre a possibilidade de uma remodelação.
Numa declaração ao país, feita a partir da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que é preciso "abrir um novo ciclo", na sequência dos incêndios de junho e de domingo passado, e que isso "inevitavelmente obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo" - numa eventual alusão a uma recomposição do executivo do PS.
Fonte: DN